Novo tipo de prótese para correção de aneurisma é menos invasiva e a recuperação, mais rápida
Foi realizada anteontem em Campinas, no Hospital do Coração, uma cirurgia inédita para correção endovascular de aneurisma da aorta toraco-abdominal. O método utiliza um novo tipo de prótese, que torna o procedimento menos invasivo e a recuperação mais rápida. A paciente G.I.C., de 62 anos, apresentava um quadro grave do problema e tinha restrições aos dois métodos tradicionais de tratamento. O aneurisma dela chegava a 6 centímetros de diâmetro, o triplo do tamanho normal. Segundo o cirurgião vascular Daniel Benitti, que comandou a cirurgia, o procedimento foi realizado com sucesso e hoje mesmo a paciente poderá ter alta. Pela primeira vez uma cirurgia da aorta utilizando esta nova técnica é feita na América.Tradicionalmente, dois procedimentos são realizados no tratamento de aneurisma da aorta, mas a paciente G.I.C. tinha restrições aos dois. Um deles é a cirurgia aberta, na qual é feita uma grande incisão, interrompida a circulação do corpo e trocada a aorta por uma prótese. O procedimento leva em média quatro horas e a recuperação do paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é longa. “Trata-se de uma cirurgia muito invasiva e com alta taxa de complicação”, explica o cirurgião. Segundo ele, a cirurgia aberta não era recomendada para a paciente, por ela apresentar uma doença pulmonar obstrutiva causada pelo cigarro, o que podia trazer complicações.
A segunda opção é a confecção de uma endoprótese, que é feita sob medida para o paciente. No entanto, esta endoprótese custa cerca de R$ 250 mil e leva dois meses para ficar pronta, o que também inviabilizava o tratamento de G.I.C., que apresentava dor — um sinal de que a aorta estava prestes a romper — e não podia esperar muito tempo. Outro problema, segundo o médico, é que o convênio demora, em média, 20 dias para liberar a cirurgia. “É uma prótese boa, mas alguém que está com dor, dificilmente consegue esperar que ela fique pronta”, explica.
A terceira opção, à qual o cirurgião recorreu, era a utilização de uma endoprótese confeccionada em multicamadas nas três dimensões, o que direciona o fluxo dentro da aorta reduzindo a pressão do aneurisma e impedindo o seu rompimento. A endoprótese utilizada na cirurgia é fabricada pela empresa Cardiats, na Bélgica e, de acordo com o cirurgião, a utilização dessa prótese na aorta aconteceu, até então, apenas Europa. Segundo Benitti, o material tem um custo mais baixo, em média R$ 95 mil, e o procedimento levou em torno de uma hora.
Além disso, a prótese não precisa ser feita sob medida, pois apresenta tamanhos diversos que se adequam aos pacientes. “Ela tem a grande vantagem de ser uma cirurgia minimamente invasiva, temos rápido acesso ao material e despressuriza o aneurisma, impedindo a sua rotura e mantém a irrigação dos órgão abdominais e membros”, disse. Ele explica que as multicamadas, que são várias camadas entrelaçadas, ajudam a direcionar o fluxo. “O sangue vai passar por dentro da malha trançada. O fluxo direcionado vai despressurizar o aneurisma e diminuir a chance de ruptura, o que é a intenção do tratamento”, afirma. A recuperação também é mais rápida e, segundo ele, hoje mesmo a paciente poderá ter alta.
O médico considerou o novo método revolucionário. “Esse material está mudando todo o conceito de cirurgia de aneurisma, permitindo uma abordagem menos invasiva com menor tempo de internação e recuperação muito mais rápida”, considerou.
A cirurgia foi realizada no Hospital do Coração, em Campinas. Estiveram presentes o vice-presidente do Hospital Albert Einstain, de São Paulo, o chefe do Hospital Oswaldo Cruz e do Hospital A.C.Camargo, Kenji Nishinari, além de Edward Ditrich, um dos nomes mais conhecidos do mundo na cirurgia vascular, filho do fundador do Arizona Heart Institute.
Paciente recebeu alta dois dias depois
A cirurgia endovascular pode ser realizada com anestesia geral, raquianestesia e anestesia local. Nela, o cirurgião, através de uma incisão na virilha, coloca uma endoprótese dentro da aorta recobrindo o aneurisma. A endoprótese, confeccionada em multicamadas nas três dimensões, direciona o fluxo dentro da aorta reduzindo a pressão do aneurisma e impedindo o seu rompimento. O novo material não precisa ser feito sob medida. O procedimento leva em média uma hora. A recuperação em UTI é rápida. Na primeira aplicação feita no País a paciente recebeu alta dois dias depois.
SAIBA MAIS
A aorta é a maior artéria do corpo humano. Está conectada ao coração e recebe o sangue diretamente do ventrículo esquerdo, levando-o para o corpo todo. “A aorta é dividida em quatro partes: aorta ascendente, arco aórtico, aorta torácica descendente, aorta abdominal. A aorta abdominal é a porção mais distal e apresenta o maior comprimento”, explica o cirurgião vascular Daniel Benitti. Ela fornece sangue para os órgãos da cavidade abdominal, como fígado, estômago e rins, por exemplo, e para as regiões inferiores do corpo. A aorta abdominal se divide em duas artérias ilíacas, próximas a região do umbigo, e levam o sangue para a pelve e pernas.
A aorta apresenta paredes que foram feitas para lidar com a pressão arterial e o alto fluxo de sangue em seu interior. No entanto, ao longo do tempo, as paredes podem enfraquecer em certas partes da aorta, provocando dilatação, que recebe o nome de aneurisma. “Muitas vezes, uma pessoa com aneurisma não apresenta nenhum sintoma. A maioria dos diagnósticos de aneurisma são feitos durante uma consulta médica não relacionada ou durante um exame de ultrassom ou tomografia, por exemplo”, afirma. Segundo o médico, algumas pessoas, no entanto, podem sentir a pulsação no abdome. Outras podem apresentar dor súbita no abdome ou na parte inferior das costas”. A cirurgia deve ser realizada quando há um risco de rotura da aorta.
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