terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando o prazer pelas compras torna-se compulsão

Planejar-se financeiramente tornou-se quase um ato heroico diante de atrativas novas tecnologias, do cenário da supervalorização das aparências e também da avalanche de campanhas de publicidade e marketing segmentado que nos atingem por todos os lados, desde uma campanha de e-mail marketing a um panfleto entregue no semáforo.
De acordo com o indicador mensal de inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o número de consumidores com dívidas em atraso em agosto subiu 5,09% em relação ao ano passado.
Mas até que ponto o descontrole nas compras e as dívidas estrondosas em cartões de crédito são considerados normais ou rotineiros?
A prática de fazer compras torna-se uma compulsão quando a pessoa passa a ter prejuízos financeiros, emocionais, pessoais e mesmo assim não consegue parar de comprar. Como por exemplo, o consumidor passa a omitir o valor dos objetos comprados, sente vergonha por ter adquirido mais coisas e é tomado por uma euforia descontrolada no momento da compra.
A compulsão por compras, chamada cientificamente de oneomania é caracterizada pelo desejo recorrente e incontrolável de adquirir qualquer tipo de coisa desnecessária, pois a pessoa já possui o mesmo objeto ou simplesmente por não precisar daquilo no dia a dia.
É comum que pessoas que sofrem com oneomania tenham em casa vários itens com etiqueta ou algum objeto sem serventia, como por exemplo, uma roupa que não serve. Outra característica comum é que o consumidor compulsivo não se recorda de ter comprado alguns itens.
Quando os familiares ou amigos percebem esse comportamento excessivo, os compradores tendem a negar o problema e passam a mentir, a esconder as compras e as faturas dos cartões de crédito.
De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), três em cada 100 brasileiros são compradores compulsivos e não resistem ao impulso de comprar qualquer coisa, sem se importar com o valor da compra e com o objeto em si.
Normalmente a compulsão surge como uma válvula de escape, ou seja, a pessoa desconta um problema ou uma aflição nas compras com objetivo de preencher um vazio interno. O ato de comprar proporciona uma sensação momentânea de satisfação, porém depois vem a culpa e a tristeza, seguidas da necessidade de comprar novamente, o que gera um ciclo vicioso.
Pessoas que sofrem de quadros depressivos e ansiosos também estão mais suscetíveis para a compulsão por compras. Afinal, o ato proporciona uma sensação de prazer e bem-estar, comparável ao provocado pelo álcool e pelas drogas.
A oneomania pode ser controlada e tratada. Veja algumas dicas:
- Aceitação: o primeiro passo é a pessoa aceitar a compulsão e buscar ajuda de especialistas, amigos e familiares;
- Ajuda de especialistas: consultas com psicólogos e psiquiatras é fundamental para o paciente entender o fator que o levou a tornar-se um compulsivo e tratar a patologia para voltar a ter uma vida tranquila e normal;
- Grupos de ajuda: outro auxílio importante pode ser os grupos de ajuda mútua, como o Devedores Anônimos que atuam de forma semelhante aos Alcoólicos Anônimos. Compartilhar as angústias e experiências com pessoas que sofrem da mesma compulsão pode ser uma peça chave no tratamento.
É totalmente possível controlar a compulsão. Mudanças de hábitos são indispensáveis, além de desenvolver outras formas de lidar com angústias e obstáculos que não sejam pela via do consumismo.
*Doutor Douglas Motta Calderoni é médico psiquiatra e sócio-fundador da clínica Sintropia. 

Nenhum comentário: