Projeto vencedor da maior feira de ciências do mundo abre caminho para o diagnóstico precoce de um dos tipos mais letais de câncer
Jack Andraka é um garoto americano de 15 anos que adora o seriado de TV Glee.
Filho de pai polonês e mãe inglesa, mora com a família em Maryland, na
vizinhança da capital Washington, onde cursa o primeiro ano do High
School (equivalente ao segundo grau no Brasil) no North County High
School, um cólegio normal. Gosta de remar em seu caiaque e fazer
origamis. A princípio, não há nada que o destaque dos demais rapazes de
sua idade. Jack, porém, é um gênio. No dia 18 de maio, venceu a Feira
Internacional de Ciência e Engenharia da Intel, a maior do mundo para
pré-universitários. Levou 100.000 dólares para casa, 75.000 pelo prêmio
principal, 25.000 em prêmios especiais. Seu feito: desenvolver um teste
simples e barato para fazer o diagnóstico precoce de três tipos de
câncer, incluido o do pâncreas, um dos mais letais. O custo é de três
centavos de dólar e o resultado é obtido em menos de cinco minutos.
Segundo o site da Intel, o teste que Jack criou é 28 vezes mais barato e
100 vezes mais sensível do que o conjunto de técnicas atualmente
utilizado para o diagnóstico. A comparação com o teste ELISA, o mais
difundido método de detecção atual, é ainda mais impactante: o método de
Jack se mostra 26.667 vezes mais barato e 400 vezes mais sensível.
Jack é persistente. Depois que o tio morreu de câncer do pâncreas,
passou meses pensando em formas de atacar a doença. Cerca de 95% dos
pacientes morrem em até cinco anos se o tumor no pâncreas não é
descoberto cedo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, todos os anos
são registrados quase 145.000 novos casos de câncer de pâncreas e cerca
de 139.000 mortes. Steve Jobs, cofundador da Apple, foi uma das vítimas
da doença. Jack teve seu momento eureka durante uma aula de
biologia em 2011. Andraka já havia estudado os nanotubos de carbono,
estruturas artificiais com a espessura de um átomo hoje usadas na
indústria farmacêutica, e marcadores biológicos, substâncias presentes
no organismo que podem indicar a existência de uma doença. Ele juntou as
duas coisas e começou a projetar um teste que usasse os nanotubos para
detectar o marcardor biológico do câncer de pâncreas, com o objetivo de
fazer isso de forma mais simples e mais barata que o teste ELISA.
"O que fiz foi criar um sensor de papel: um nanotubo de carbono de parede simples combinado com anticorpos e um marcador biológico do câncer chamado mesotelina. Os anticorpos são moléculas que se grudam em outras moléculas específicas. Meu sensor, em um estudo cego, fez o diagnóstico certo do câncer de pâncreas em 100% dos casos. Ele pode diagnosticar o câncer antes que ele se torne invasivo." Uma gota de sangue basta para fazer o teste.
Para validar sua ideia, Jack escreveu um projeto de pesquisa prevendo os materiais necessários, o tempo de utilização do laboratório, o custo e os resultados almejados. Enviou o projeto por e-mail para 200 profissionais nos Estados Unidos. Recebeu 197 'nãos'. Duas respostas nunca chegaram. "Quando estava prestes a desistir, recebi a última resposta", diz Jack em entrevista ao site de VEJA.
"O que fiz foi criar um sensor de papel: um nanotubo de carbono de parede simples combinado com anticorpos e um marcador biológico do câncer chamado mesotelina. Os anticorpos são moléculas que se grudam em outras moléculas específicas. Meu sensor, em um estudo cego, fez o diagnóstico certo do câncer de pâncreas em 100% dos casos. Ele pode diagnosticar o câncer antes que ele se torne invasivo." Uma gota de sangue basta para fazer o teste.
Para validar sua ideia, Jack escreveu um projeto de pesquisa prevendo os materiais necessários, o tempo de utilização do laboratório, o custo e os resultados almejados. Enviou o projeto por e-mail para 200 profissionais nos Estados Unidos. Recebeu 197 'nãos'. Duas respostas nunca chegaram. "Quando estava prestes a desistir, recebi a última resposta", diz Jack em entrevista ao site de VEJA.
A resposta positiva veio do laboratório do médico Anirban Maitra,
especialista em câncer do pâncreas. Maitra trabalha há 12 anos na
respeitada Universidade John Hopkins, que tem uma das melhores
faculdades de medicina do mundo e investe alto no tratamento do câncer.
"O projeto estava tão bem elaborado, tão bem escrito e representava uma
ideia tão inovadora, que foi impossível recusá-lo", diz Maitra. "Jack é
um rapaz brilhante." E esforçado. Na segunda metade de 2011, Jack
começou o trabalho que duraria sete meses. O médico conta que o garoto
aparecia no laboratório todos os dias, após a escola — uma viagem de 70
quilômetros. "Vinha até nos feriados e por vezes saía tarde da noite do
laboratório."
Da feira de ciências para o doutorado — O teste de
Jack é um projeto de feira de ciências, mas equipara-se a uma tese de
doutorado. Promissora, a ideia ainda é muito jovem, e precisará passar
pelo rigor e escrutínio da comunidade científica antes de chegar aos
pacientes. Quando o estudo for publicado, na forma de um artigo para
periódicos científicos, terá o jovem Jack como "chefe da pesquisa". "Ele
já está escrevendo. Vamos enviar o artigo em breve", diz Maitra.
Jack já patenteou a técnica e começou a ser assediado por empresas que
querem transformá-la em produto. Os 100.000 dólares que recebeu pela
descoberta, ao vencer a feira de ciências da Intel, serão usados para
financiar sua promissora carreira como patologista. "Ele já venceu
outras feiras de ciência menores, sempre com projetos sensíveis às
necessidades da sociedade", conta Maitra. "Sua sagacidade está sempre
apontada para problemas reais da população." O médico diz que teria
orgulho em tê-lo como aluno na Universidade John Hopkins, mas sabe que
ele será disputado por outros gigantes da pesquisa. "Pessoas como ele
construíram o Google ou a IBM", diz. "Ele tem condições de criar sua
própria empresa de biotecnologia." Mas Jack ainda não pensa onde
trabalhar. No primeiro ano do ensino médio, o que ele quer é disputar a
próxima feira de ciências da Intel.
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